Rosário

Era a primera vez que eu me hospedava na casa de um desconhecido. Quando cheguei, L. - meu anfitrião- preparava com 2 amigos marmeladas para vender em feiras. Panelas altas e largas ocupavam todas as bocas do fogão. Em 2 delas, cozinhavam as frutas com açúcar. Em outra, mergulhavam os potes e tampas em água fervendo para esterelizá-los. Na última, preparava-se macarrão com molho de tomate e o que havia sobrado de creme de leite na geladeira. Passavam das 16hs quando nos sentamos para comer. Cada um contava sobre as viagens que fizera e as que ainda pretendia fazer. A cada vez que eu dizia algo que os entusiasmava, L. abria os braços e exclamava: "Que jogador este Hermano!".

No início da noite, quando voltei para a casa, C. já havia ido embora. L. etiquetava os potes enquanto N. lia um texto para sua aula de filosofia. Quando me viu, disse que queria ler-me um trecho de um ensaio de Nietzsche que, segundo ele, lembrava as minhas motivações para começar a viagem. Leu pausadamente para que eu entendesse o espanhol e me explicava os termos que eu desconhecia. Algumas passagens pareciam realmente bonitas, outras eram-me tão incompreensíveis quanto se fossem lidas diretamente do alemão. Para não ficar calado depois da leitura, arrisquei um comentário vazio sobre o aquilo que havia conseguido entender. L.. então, levantou uma mão para cima dizendo: "Este hermano és mismo un aristotélico", com o evidente desejo de me incentivar. Regado com pouco vinho e bons pedaço de pizza, o assunto passou para a política brasileira e argentina, em seguida, para a literatura de cada país. Quando o vinho terminou, L. lia uma poesia de um de seus escritores prediletos. No dia seguinte, L., N. e C. foram viajar para o interior de Córdoba. Dali a poucos dias, eu também iria embora de Rosário.

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