Outro dia eu estava num centro cultural de Buenos Aires, sentado numa espreguiçadeira quando um senhor se aproximou de mim. Com um cigarro na boca, contou-me que havia começado a fumar ainda criança, com 3 anos de idade, para enganar a fome que assolava a região da Rússia onde nascera. Ainda criança veio a Argentina. Disse também que, assim como eu, era arquiteto. Ele não demorou a adivinhar que eu era brasileiro e passou a relatar uma série de histórias de sua amizade com Lula, quando este mesmo senhor era embaixador da ONU. Quando estávamos nos despedindo,ele reclinou o corpo e disse que me contaria algo que pouca gente sabia: os Beatles haviam sido responsáveis pela vitória inglesa na guerra.

Não sei a que guerra ele se referia e nem a origem desse segredo. Não saiu também se entendi corretamente as histórias que ele contava. O espanhol com sotaque russo parecia, para mim, quase uma língua nova, cujas as lacunas de incompreensão eu completava por minha conta. Acho bastante improvável que o relato seja verdadeiro da maneira como entendi, mas faz parte dessa compilação de pequenas histórias que colecionamos em viagens.

Despeço-me de Buenos Aires coma sensação de que essa irmã mais velha do Montevidéu e prima elegante de São Paulo foi extremamente generosa comigo nos encontros mal-entendidos e nas mentiras involuntárias.