Córdoba

Segurando com as 2 mãos um machado de cortar lenha, eu golpeava um pedaço de frango sobre uma tábua de madeira. O osso já havia se partido, mas a pele custava em se rasgar. Desisti de concluir a minha tarefa e joguei aquela carne meio cortada em uma panela com água quente. Quanta violência humana estaria contida naquele pedaço de frango.
 
Sentei no sofá da sala para esperar que a água fervesse. A janela estava sempre fechada por uma cortina escura com pequenas marcas de bolor. Sobre o piano, acumulavam‐se pilhas de revistas, um casaco para doação, uma pequena estátua de Virgem Maria e uma televisão LED-4K, comprada na última viagem feita a Ciudad de Leste. A TV, assim como se faz com geladeira e relógios, não nunca era desligada.

Quando eu entrara na sala, ninguém olhava para a tela. Mas me era impossível ignorar os comentários intermináveis feitos pelos analistas políticos sobre a última escalada no preço do ovo. As falas de cada um se atropelavam mutuamente e criavam um novelo de vozes infindável. Quantas outras casas haviam sido invadidas por aqueles estúpidos comentaristas do canal aberto? Ninguém na sala dizia nada e as cores da tela captaram minha atenção até que eu percebesse que a água já borbulhava na panela. 

Voltei à cozinha e despejei cinco punhado de arroz. Os cachorros me cercavam, trombando com minhas pernas. Eles sabiam que aquela era a comida deles. Quando a água se secou quase por completo, dividi a comida em 3 potes de alumínio. A cadela mais nova de pelos negros gania de felicidade. Deixei a panela num canto, ao lado da porta, para que os cachorrros lambessem o que havia restado no fundo e me facilitassem a lavagem do dia seguinte. 

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